quarta-feira, 12 de setembro de 2012

PELE E OUTRAS PALAVRAS



Abro a palavra concha
cuidadosamente
para que o mar
aí contido
não se derrame.

Cubro a pele
com a palavra penumbra,
suntuosa como ungüento
e me desmancho
em seu silêncio.

Como o vento
afiando um penhasco,
existe a hora sagrada
de afiar palavras:
quando o canto dos pássaros
se arruma em suas gargantas
e a lua assombra
o primeiro beijo dos amantes.

Roseana Murray
In Rios de Alegria

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