sábado, 22 de setembro de 2012

CIMO




A hora da tarde, a que põe
seu sangue nas montanhas.

Alguém nesta hora está sofrendo;
com angústia alguém perde
ao pôr do sol o único peito
contra o qual se estreitava.

Um coração existe em que molha
a tarde aquele cimo ensangüentado.

O vale já está na sombra
e se cobre de calma.
Olham porém, da profundeza, o incêndio
que enrubesce a montanha

Eu me ponho a cantar sempre nesta hora
minha invariável canção atribulada.

Serei eu a que banha
o cume de escarlate?

Levo a meu coração a mão e sinto
que uma ferida sangra.


Gabriela Mistral,
Tradução de Henriqueta Lisboa

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