quinta-feira, 28 de maio de 2015

O SILÊNCIO




Há um grande silêncio que está à escuta...

E a gente se põe a dizer inquietamente qualquer coisa,
qualquer coisa, seja o que for,
desde a corriqueira dúvida sobre se chove ou não chove hoje
até a tua dúvida metafísica, Hamleto!

E, por todo o sempre, enquanto a gente fala, fala, fala
o silêncio escuta... 
e cala.”

Mário Quintana
Em “Esconderijos do Tempo


domingo, 24 de maio de 2015

A LUA DE BABILÔNIA





Numa esquina do Labirinto 
às vezes 
avista-se a Lua. 
“Não! Como é possível uma lua subterrânea?”

(Mas cada um diz baixinho: 
Deus te abençoe, visão...)

Mario Quintana
Do livro: Poesias Completas

domingo, 17 de maio de 2015

ASA NO ESPAÇO


Arte Igor Zenin


Asa no espaço, vai, pensamento! 
Na noite azul, minha alma, flutua! 
Quero voar nos braços do vento, 
quero vogar nos braços da Lua!


Vai, minha alma, branco veleiro, 
vai sem destino, a bússola tonta... 
Por oceanos de nevoeiro 
corre o impossível, de ponta a ponta.


Quebra a gaiola, pássaro louco!
Não mais fronteiras, foge de mim,
que a terra é curta, que o mar é pouco,
que tudo é perto, princípio e fim.


Castelos fluidos, jardins de espuma,
ilhas de gelo, névoas, cristais,
palácios de ondas, terras de bruma,
... Asa, mais alto, mais alto, mais!

Fernanda de Castro 
 

terça-feira, 12 de maio de 2015

2



 
 
Na noite transfigurada só ficaram os cedros e os
ciprestes.
A lua surgiu, mas como, na lembrança, um rosto
antigo explende palidamente e depois
se apagou.
O vento veio, mas como um pássaro branco de
grandes asas fatigadas: esvoaçou, lento
entre as frondes, pousou no chão e
adormeceu.
Os outros seres perderam-se no caminho dos
milênios.
Ficaram apenas os cedros e os ciprestes e, na altura,
as estrelas.
E para além dos ciprestes e cedros há só deserto e
esquecimento.
 
 
 
Tasso da Silveira
in Solilóquio.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

MIA COUTO



Olhei o poente e vi as aves carregando o sol,
empurrando o dia para outros aléns.

MIA COUTO
in "O último voo do flamingo"