Eu vi o céu abrir-se todo em luz,
surgir de cada noite uma alvorada
uma outra flor de cada flor tombada
e acreditei: fiz o sinal da cruz.
Ingenuamente acreditei... Supus
que eram minhas a noite, a madrugada,
que tudo era de todos e que nada
era só de um, como pregou Jesus.
Mas quando alegremente a minha mão
quis segurar o azeite, o mel, o pão,
a moeda mais ínfima de cobre,
alguém mais forte pôs-se à minha frente,
tapou-me o sol, passou indiferente,
e eu fiquei pobre, cada vez mais pobre.
Fernanda de castro
em Trinta e Nove Poesias – 1.941 –
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