Na tarde tropical, arfa e pesa a atmosfera.
A vida, na floresta abafada e sonora,
Úmida exalação de aromas evapora,
E no sangue, na seiva e no húmus acelera.
Tudo, entre sombras, - o ar e o chão, a fauna e a flora,
A erva e o pássaro, a pedra e o tronco, os ninhos e a hera,
A água e o réptil, a folha e o inseto, a flor e a fera,
- Tudo vozeia e estala em estos de pletora.
O amor apresta o gozo e o sacrifício na ara:
Guinchos, berros, zinir, silvar, ululos de ira,
Ruflos, chilros, frufrus, balidos de ternura...
Súbito, a excitação declina, a febre pára:
E misteriosamente, em gemido que expira,
Um surdo beijo morno alquebra a mata escura...
Olavo Bilac
In ‘Tarde’ (1919)
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