Como na noite a vila dorme santamente
e não há carruagem, nem armazém, nem gente,
Caminha o homem na noite com a cabeça ao vento,
o corpo agilizado de carne e sentimento,
se imagina suspenso das estrelas.Pensa
que se este céu noturno fosse uma taça imensa
e sua alma como um fruto se espremesse sobre ela
e o sumo de sua alma lavasse assim as estrelas,
a alegria do céu seria a sua alegria
e perdido entre os astros seu cantar ficaria,
e igual às águas de um repuxo imaginário
seu sangue dessedentaria os jardins lunários.
O homem que caminha grita incessantemente.
O homem que caminha deve ser um demente.
Sonâmbulo ou bêbado, deixá-lo que caminhe
tropeçando nas pedras, pisando nos hortos.
Esquecerá do céu ao cruzar uma rua
e ficará cravado como árvore no solo.
Mariposa sem asas, clavicórdio sem notas,
o espírito curvado como uma corda rota
e ouvindo nas estrelas a voz que o não nomeia,
o homem que caminha soluçará na sombra.
Pablo Neruda
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