quinta-feira, 18 de setembro de 2014

'CREPÚSCULO'




Alada, corta o espaço uma estrela cadente. 
As folhas fremem. Sopra o vento. A sombra avança. 
Paira no ar um langor de mística esperança 
E de doçura triste, inexprimivelmente. 

À surdina da luz irrompe, de repente, 
O coro vesperal das cigarras. E mansa, 
E marmórea, no céu, curvo e claro, balança 
Entre nuvens de opala, a concha do crescente. 

Na alma, como na terra, a noite nasce. É quando, 
Da recôndita paz das horas esquecidas, 
Vão, ao luar da saudade, os sonhos acordando ... 

E, na torre do peito, em plácidas batidas,
Melancolicamente, o coração pulsando, 
Plange o réquiem de amor das ilusões perdidas. 


Martins Fontes
Verão (1917)

Nenhum comentário:

Postar um comentário