terça-feira, 13 de agosto de 2013

O SONO



Quando os relógios da meia-noite oferecerem
Um tempo generoso,
Irei mais longe que os remadores de Ulisses,
À inacessível região do sono,
À memória humana.
Dessa região imersa resgato restos
Que nunca chego a compreender:
Ervas de botânica simples,
Animais um pouco diferentes,
Diálogos com os mortos,
Rostos que são na verdade máscaras,
Palavras de línguas muito antigas
E às vezes um horror incomparável
Ao que nos pode dar o dia.
Serei ninguém ou todos. Serei o outro
Que sem saber eu sou, o que observou
Esse outro sono, a minha vigília. Julga-a,
Resignado e sorridente.


JORGE LUIS BORGES,
 in A ROSA PROFUNDA,

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