O denso lago e a terra de ouro:
até hoje penso nessa luz vermelha
envolvendo a tarde de um lado e de outro.
E nas verdes ramas, com chuvas guardadas,
e em nuvens beijando os azuis e os roxos.
Até hoje penso nas rosas de areia,
nos ventos de vidro, nos ventos de prata,
cheios de um perfume quase doloroso.
Perguntava a sombra: " Que há pelo teu rosto?"
"que há pelos teus olhos?" - a água perguntava.
E eu pisando a estrada, e eu pisando a estrada,
vendo o lago denso, vendo a terra de ouro,
com pingos de chuva numa luz vermelha...
E eu não respondendo nada.
Sonho muito, falo pouco.
Tudo são risos de louco
e estrelas da madrugada...
Cecília Meireles
In "Vaga Música"
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