domingo, 18 de novembro de 2012

NEVOEIRO



Quem poderá saber que estranha bruma 
Brotou caladamente em minha volta
Para que eu perdesse as horas uma a uma
Sem um gesto, sem gritos, sem revolta.

Quem poderá saber que estranhos laços

E que sabor de morte lento e amargo
Sugaram todo o sangue dos meus braços –
O sangue que era sede do mar largo.

Quem poderá saber em que respostas

Se quebrou o subir do meu pedido
Para que eu bebesse imagens decompostas
À luz dum pôr de sol enlouquecido.

Sophia de Mello Breyner Andresen


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