Eu canto no crepúsculo... A Tristeza
recorda-me longínqua aspiração,
na qual pressinto a imagem da beleza
que os meus olhos, um dia, alcançarão...
A paisagem, na sombra, sonha e reza...
Seu vulto é de fantástica visão.
Dir-se-á que a empedernida Natureza
tem lágrimas a arder o coração.
E canto a minha mágoa; vou cantando...
E vou, saudoso e pálido, ficando
mais distante de mim, mais para além...
Nesta melancolia, que é chorar
sem lágrimas, eu vivo a meditar
no que me prende... a terra, o céu, alguém?
as ilusões da minha mocidade.
Teixeira de Pascoaes (1877-1952)
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