quarta-feira, 24 de julho de 2013

ENTARDECER



Vejo as vermelhas caudas do crepúsculo
e o verde fulgor do mar.
Lenta é a tarde
e quero demorá-la em densas pálpebras,
consagrando-a à companheira imóvel
na melancólica quietude do casario
em que as consoantes são de espessa pedra e surda plenitude.
Neste murmúrio de sombra ainda tão solar
quero envolver-me cúmplice dos muros
e da côncava expansão do tempo,
até às praias distantes de um sossegado azul.
Assim me alongarei nas mãos da sombra imóvel
com o fogo do silêncio e a melancolia das colinas,
vivendo o instante de um dinamismo lento
em que estar é ser seguro na igualdade.


António Ramos Rosa
in Facilidade do Ar





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