segunda-feira, 24 de agosto de 2015

AQUI SOBRE A NOITE,




Aqui sobre a noite,
na cinza das pálpebras,
no meio das rosas,
no sono das aves,
nas franjas da lua,
nas imóveis águas,

aqui, sobre a tênue 
seda da saudade,
a perpétua face.

Sozinha contemplo
o ardente milagre.
Ninguém mais te avista,
Verônica suave!
-Desenho do sonho
que a noite reparte.

Por que me apareces
igual à verdade,
ilusória imagem?

Na minha alegria,
corre um mar de lágrimas.
Tudo se repete,
na terra e nos ares,
e os meus pensamentos
são só teu retrato.

Em puro silêncio,
luminosa jazes:
tão doce e tão grave!

Fita bem meu rosto,
guarda os olhos pálidos
com rios antigos
por onde viajaste.
Lembra-te da minha 
sombra humana, diáfana,

-pode ser que um dia
todos nós passemos
pela Eternidade. 


Cecília Meireles
In: Canções -1956-



quinta-feira, 13 de agosto de 2015

EXCERTO LITERÁRIO




"Eu queria aprender o idioma das árvores 
saber as canções do vento nas folhas da tarde.
Eu queria apalpar os perfumes do sol."

_________Manoel de Barros,
in Poesia Completa