quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

NOTURNO




Sol posto... É quase a hora da saudade.
Nasce a noite da própria claridade
que ainda se estende pelos campos fora.
Um sino na distância... É quase a hora
do silêncio, do mar e das estrelas.
Estas nuvens irreais são caravelas
que vão levar-nos para lá da vida.
É esta a hora suave, enternecida,
em que não apetece falar alto.
Na sua voz profunda de contralto
reúne o mar as vozes de mil almas.
Vamos sonhar... Há nestas horas calmas
tantos sonhos errantes, que é pecado
abandonar p que nos passa ao lado.
Nada perturba o sono dos jardins.
Enlaçam-se as glicínias e os jasmins
na paz noturna, idílica, das flores.
Tomam a mesma cor todas as cores,
bate o luar em todos os caminhos,
dormem perto do céu, todos os ninhos.
Em passos de ladrão que se acautela,
a noite desce, azul e misteriosa.
Fechou-se agora a última janela.
Adormeceu a derradeira rosa.

Fernanda de Castro
em Trinta e Nove Poesias –

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