Resto de tarde já de si vazia,
viva sombra da noite antecipada.
A chama esvai-se, apaga-se o teu dia
que, pesadas as coisas, não foi nada.
Pensar em tudo: no horizonte mudo,
no visto, no sonhado, no vivido,
e sentir, como um bêbado, que tudo
surge sem forma: nada tem sentido.
Coisas ida, presentes e futuras,
tudo se tece de uma vaga bruma,
um compor de mil formas tão obscuras
que não se sabe quando nasce o dia
e, quando nasce, ninguém vê nenhuma
luz. Ó dia cansado de ser dia!
Emílio Moura
In: Itinerário Poético
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