segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

AURORA SOBRE O MAR DESCONHECIDO



 
Mãos brancas(meras mãos sem corpo e sem braços)
Acariciando um negro veludo...
Os olhos do guerreiro visto por cima do escudo
 
(Cartas de luto sobre regaços)
E nunca desfraldado o estandarte 
De modo a ver-se que cores e imagens tem...
Mãos sem lágrimas,mãos que nunca seriam de mãe...
Ah, não ser eu toda a gente e toda a parte!
 
Dói púrpuras o silêncio, e que lírios a hora!
E nos tabernáculos das ocasiões um rito de timbres colora
os vitrais das passadas desilusões...
 
Cessou no Oposto o ruído de vagas batalhas
Ficou todo o espaço sendo, com túmulos(brancos)a Hora,
Um suspirar de guizos, com fímbrias de falhas...
 
Abrem-se de par em par impossíveis portões
E desabrocha a ira nos olhos de Artur
Dos vultos, na sombra, de leões...
 
Mas os dias acontecem oráculos neutros
E não há rituais, Princesa, senão de imperfeições...

 
Fernando Pessoa
In Poesia - 1902-1917


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