Ha cidades acesas na distância,
Magnéticas e fundas como luas,
Descampados em flor e negras ruas
Cheias de exaltação e ressonância.
Ha cidades acesas cujo lume
Destrói a insegurança dos meus passos,
E o anjo do real abre os seus braços
Em nardos que me matam de perfume.
E eu tenho de partir para saber
Quem sou, para saber qual e o nome
Do profundo existir que me consome
Neste país de nevoa e de não ser.
Sophia de Mello Breyner Andresen
in 'Poemas escolhidos' 2004