Da janela de onde olha a paisagem lá fora,
a escutar o fluir da água que canta e chora,
por sob a ponte, sempre em mesmo diapasão,
como se o rio fosse a música do chão,
o poeta sonha...
Desce a sombra nas calçadas.
Alguém passa assobiando umas notas trinadas.
O ar amortece ...A brisa é terna como um beijo
nos olhos...E, ao sabor da brisa, sem desejo,
sem ânsias e sem pressa, erra o seu pensamento,
vadiamente, como um pássaro ao relento...
Pouco a pouco, porém, a doçura da tarde
que os contornos suaviza e que as folhas encarde,
e esse esparso langor da hora crepuscular
em que tudo parece estático, a cismar,
despertam na sua alma ignota melodia.
Memória... exaltação... delícia...nostalgia...
Silêncio. A natureza arfa e se exaure, lassa.
Fechar de asas e sons e ruídos em que passa
a eterna indagação do crepúsculo... E quando
no céu amplo e disperso
nasce a primeira estrela cintilando,
nasce o primeiro verso...
Onestaldo de Pennafort
Poesia
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